I am trying to believe
Written on 11:30 by Nobre
Foi em Lisboa que os Nine Inch Nails começaram a digressão europeia de Year Zero. Começou também aí um jogo que envolveu fãs de todo o mundo. Trent Reznor explica por que razão escondeu uma pen USB na casa-de-banho do Coliseu dos Recreios. Frank Rose desvenda o enigma.
«10 de Fevereiro de 2007, primeira noite da digressão europeia dos Nine Inch Nails, foram vendidas t-shirts no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com o que parecia ser um erro de impressão: algumas letras no calendário da digressão impresso nas costas pareciam mais grossas que as restantes. N uno Foros, um fotógrafo lisboeta de 27 anos, percebeu que o conjunto das letras formava a frase «I am trying to believe». Foros publicou uma foto da sua t-shirt no Spiral, o fórum de fãs dos Nine Inch Nails. As pessoas começaram a teclar «iamtryingtobelieve.com» nos seus browsers. Isso levou-os a um site que denunciava algo chamado Parepin, uma droga aparentemente introduzida no sistema de abastecimento de água dos Estados Unidos. Aparentemente, o Parep in era um antídoto para agentes bioterroristas, mas na realidade fazia parte de uma conspiração do governo para confundir e sedar os cidadãos. Os e-mails enviados para o link de contacto no site geravam uma auto-resposta misteriosa: «Eu bebo a água. Devias fazer o mesmo». Na internet, os fãs do mundo inteiro debatiam a relação de tudo isto com os Nine Inch N ails. Preparação para o próximo álbum? Algum tipo de jogo interactivo? Algo mais?
Alguns dias depois, a 14 de Fevereiro, uma mulher chamada Sue estava prestes a lavar uma t-shirt diferente, que comprara num dos concertos de Lisboa, quando reparou que as datas da digressão incluíam vários dígitos mais grossos. Os fãs perceberam rapidamente que se tratava de um número de telefone de Los Angeles. As pessoas que telefonaram ouviram uma gravação de um pivô noticioso a anunciar: «Mensagem presidencial: a América renasceu». Seguia-se um excerto distorcido do que só poderia ser uma nova canção dos Nine Inch Nails. Pouco depois, uma portuguesa chamada Ana declarou ter encontrado uma pen USB com uma canção inédita numa das casas-de-banho do Coliseu. Nos dados do ficheiro estava uma pista que levava a um site com um campo de trigo brilhante e a legenda «A América Renasceu». Mas uma maior atenção ao ecrã revelava uma ligação para um site muito mais sombrio, com o texto «Outra Versão da Verdade». Clicar nesta mensagem levava a um fórum sobre actos de resistência underground.
Trent Reznor, o estratega
Todas estas actividades haviam sido preparadas há meses. Trent Reznor, o líder dos Nine Inch Nails, tinha estado a gravar Year Zero, um álbum sombriamente futurista que evocava uma América assombrada pelo terrorismo, devastada pelas mudanças climáticas e governada por uma ditadura militar cristã. «Mas tinha um pro blema», recorda, sentado no segundo andar da casa que está a remodelar em Beverly Hills – «como dar às canções o seu contexto?». Nos anos 60, os álbuns conceptuais vinham com notas extensas e artwork – os MP3 não têm isso. «Então comecei a pensar como é que havia de fazer a capa mais elaborada do mundo, utilizando os media de hoje», revela.
Anos antes, Reznor ouvira falar de um jogo complexo, jogado ao longo de muitos meses, on line e no mundo real, no qual milhões de pessoas pelo planeta fora tinham resolvido colectivamente uma série de puzzles, enigmas e caças ao tesouro ligados ao filme de Steven Spielberg, IA: Inteligência Artificial. Desenvolvido por Jordan Weisman, na altura executivo da Micros o ft, foi o primeiro exemplo daquilo a que se viria a chamar «jogos de realidade alternativa» (Alternate Reality Games, ou ARGs – ver caixa). Depois de deixar Redmond, Weisman fundou uma empresa chamada 42 Entertainment, que fez ARGs para vários produtos, desde o Windows Vista até Piratas das Caraíbas: O Cofre do Homem Morto.
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Fonte: Blitz If you enjoyed this post Subscribe to our feed